Transcrição:
Por MARINA SILVA
OPINIÃO
FOLHA DE SÃO PAULO
25 DE NOVEMBRO DE 2011
Na quarta-feira, na Comissão de
Meio Ambiente do Senado, ocorreu uma das derrotas mais sofridas que a luta
socioambiental em defesa do desenvolvimento sustentável poderia viver.
A sessão, que deveria tratar com
tempo e profundidade o mérito do projeto de lei que propõe criar um novo Código
Florestal, transformou-se em um exemplo perfeito do que, sem medo de errar,
pode ser chamada de velha política.
O indicador dessa senilidade
política veio na forma de argumentos apelativos que tentavam convencer os
"derrotados" de que deveriam alargar o sorriso, disfarçar a
indignação e posar para a foto com os "vencedores", sem lhes estragar
o realce da moldura.
Afinal, todos, como no episódio
do vaidoso rei que estava nu, deveriam repetir que o relatório Viana/Luiz Henrique
havia conseguido tecer um texto que, finalmente, faria o impossível: aumentar a
proteção de rios, encostas e florestas ao mesmo tempo em que acaba com a
obrigatoriedade de recuperação das áreas de preservação permanente e das
reservas florestais na maioria das propriedades privadas, com anistia de multas
de desmatamentos ilegais.
Durante toda a sessão, o tom era
de "dever cumprido", de "conquista histórica", de
"consenso entre ruralistas, cientistas, governo e ambientalistas".
Mas, na verdade, o que ocorreu mesmo foi um acordo entre poucos: governo e
ruralistas, mediados pelos senadores Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Jorge Viana
(PT-AC), Luiz Henrique (PMDB-SC), Kátia Abreu (PSD-TO) e pela ministra do Meio
Ambiente, Izabela Teixeira.
Agora, o que se vê são todos os
espaços sendo usados para fazer grudar na história uma espécie de adesivo
verde, um tapume para esconder os escombros da legislação ambiental, que começa
a ruir na derrocada do velho guardião das florestas.
Nada mais característico da velha
política do que conformar-se em apenas parecer. Nesse caso, bastaria aos
socioambientalistas deixar prevalecer a tese de que -apesar dos retrocessos-
também saíram vencedores. Afinal de contas, também fazem parte do grande
consenso. Poderiam nos colocar na foto de todos os jornais esverdeando a
moldura, mas não seria a verdade.
As mais de 200 emendas
apresentadas ao relator Jorge Viana demonstram que o único consenso é que não
havia consenso algum. E isso, por si só, deveria fazer com que o processo de
tramitação do projeto tivesse mais tempo, para tentar construir soluções
mediadas, e não aplicar na lei aquilo que tanto se faz na floresta: o
correntão!
Sem essa mediação, vão empurrar
para a berlinda o compromisso assumido publicamente no segundo turno pela então
candidata Dilma.
*** Marina Silva ***
escreve para a Folha
de São Paulo
todas as sextas-feiras
coluna Opinião.
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