Imagino que seria muito correto e importante se todas as estações ferroviárias do Brasil tivessem o mesmo tratamento que outras poucas espalhadas pelo interior...
Algumas pessoas e entidades – políticos, empresários ou associações - se dispõem da melhor consciência ao fazerem reformas em antigos prédios que abrigavam as estações ferroviárias desativadas pela falta de linhas de passageiros, ocupando esses espaços geralmente com temas culturais das regiões onde se encontram. Isso mostra o valor que eles dão à cultura, o reconhecimento pelo que representam essas estações no surgimento e desenvolvimento de suas cidades no passado e pela manutenção da história, não só daquelas regiões, mas pela rica história do Brasil.
Aqui no Rio de Janeiro tem uma estação que serviu a família Imperial quando seguiam em viagens para Petrópolis e que, por extremos desleixos dos vários governantes e entidades responsáveis - locais e não locais - está se deteriorando desde que foi desativada.
Construída por Irineu Evangelista de Souza (Barão de Mauá, depois Visconde de Mauá) e inaugurada em 30 de abril de 1854, a Estrada de Ferro Mauá, primeira do Brasil, iniciava-se em Mauá, pequeno balneário de Magé - RJ, e seguia até a localidade de Fragoso, no mesmo município. Por seus trilhos percorreu a também pioneira locomotiva Baroneza, que ostentava o imponente Nº1 em sua dianteira.
Em gloriosa época, a Estrada de Ferro Mauá recebia através de sua estação de acesso a beira-mar a nobre família que chegava em barcos a vapor vindos do Cais da Prainha (na Praça Mauá - Centro do Rio) e atracavam no píer/plataforma da Estação Guia de Pacobaíba, ao lado da composição de vagões puxada pela lendária Baroneza, que sobre os trilhos transportava os integrantes da família Imperial por 14 km até a também histórica Estação de Fragoso – modificada ao longo do tempo e utilizada até hoje – que fica na subida da serra, de onde prosseguiam viagem por meio de Carruagens, até a cidade serrana de Petrópolis.
É uma vergonha desprezar um monumento de tal importância histórica, independente da discordância dos abusos e doutrinas pouco populista da época imperial e que acabaram por gerar o movimento republicano brasileiro.
Digo isso porque me parece evidente a existência de um resquício generalizado diante do que se passou na era imperial. Digo isso com base no lamentável sucateamento da malha ferroviária no Brasil. Digo isso diante de fatos que mostram a força desse resquício discriminatório como no grosseiro caso em que se derrubou o Palácio Monroe, no Rio, onde adversários políticos do engenheiro construtor não queriam deixar marcas do seu trabalho para a posteridade, mesmo já tendo sido morto na ocasião da demolição. Pobres de moral e vergonhosos adversários que se empenharam covardemente para destruir um patrimônio da grandeza histórica como aquela construção que pertencia ao povo, muito mais do que ao próprio executor daquele lindo monumento implantado no coração da cidade... Mas isso é outro caso, mesmo servindo de mera comparação.
Em termos de valores, o que se gasta com recuperação de simbolos históricos no Brasil não é muito em comparação aos gastos públicos por coisas pouco importantes e de interesses menores do povo, e por isso não é aceitável que se deixe desaparecer um prédio que tem como legenda histórica a primeira Estação Ferroviária do Brasil.
Há pouco tempo a estação Guia de Pacobaíba, construída à margem da Baía de Guanabara, sofreu uma pequena reforma, que aos olhos de sua importância cultural, recebeu um investimento muito pobre e sem a devida extensão para a recuperação da estrutura metálica do píer/plataforma, que apodrece lamentavelmente diante da acelerada corrosão marítima.
Infelizmente essa é a realidade de como são tratados os nossos símbolos históricos...